19 agosto 2008

Astonishing X-Men, por Joss Whedon e John Cassaday

O status quo dos Mutantes neste últimos anos de edição da Marvel tem sido mais que atribulado e dificilmente se consegue alcançar alguma estabilidade, sem sequer existir realmente um statuo quo. Além de estes terem abandonado quase que por completo as principais fileiras do Universo Marvel, existindo num mundo que parece ser apenas habitado por mutantes, os X-Men têm perdido grande parte da sua identidade ao longo deste últimos anos, tendo atravessado diversos problemas.
Vejamos, desde os anos '90 que a população Mutante tem vindo a crescer, tendo até sido criados títulos-extra que acompanhavam o já habitual Uncanny X-Men, que pelos vistos não chegava para contar as histórias que os editores queriam publicar. Jim Lee e Chris Claremont foram um êxito na altura, tendo feito aquele que talvez é a série mais vendida na indústria americana, tendo vendido mais de 8 milhões de cópias. Falo do título X-Men, que pretendia dar um novo look aos mutantes, juntando um argumentista clássico a um desenhador que marcaria toda aquela fase "Image Comics" que foram os '90.
Outro homem que chegava para ficar era o controverso Rob Liefeld, mais uma das cabeças que fariam parte da Image e que fazia as delícias dos fãs (um dos maiores mistérios da história dos comics). A X-Force era a aposta por parte deste duvidoso argumentista/ desenhador, mas a pouca estabilidade entre as várias equipas criativas desta nova vaga de títulos X-Men não permitia a sua existência por muito mais tempo. Claremont apenas escreveu três comics da série X-Men (divergências com a Marvel), deixando Lee sozinho à espera de melhor sorte, juntamente com outros resistente como Scott Lodbel ou Fabian Nicieza. O problema é que a Marvel iria ser mais tarde desfalcada pelo aparecimento da Image, com os abandonos de Lee, Liefeld e até Marc Silvestri, uma imagem de marca dessa editora.
Esta década também fez surgir vários personagens que caíram facilmente no esquecimento, mas que mesmo assim, os fãs mais acérrimos dos X-Men faziam questão de os lembrarem, como o famoso Gambit, Cable ou Bishop, que até tiveram direito a séries próprias, que terminaram mais tarde de forma precoce.
Único nome a reter nesta década: Age of Apocalipse. Talvez seja das mais conhecidas sagas dos X-Men, uma daquelas que mais títulos abrangeu e uma das mais preferidas pelos fãs. Quem estiver interessado como eu (há já muito tempo), existem três volumes disponíveis pela Marvel (daqueles de 300-400 páginas cada) que incluem a saga completa. Outra coisa que talvez tenha valido a pena é a Onslaught Saga, onde li poucas coisas ainda editadas pela Devir que continham a personagem, mas que não faziam parte da saga em si.

Novo milénio. A população Mutante começa a crescer demasiado, um descontrolo total que leva a que o ódio pelo Homo Superior seja crescente. "Quem é que vamos chamar para resolver esta situação de uma forma pouco convencional?" - Grant Morrison, pois claro. Chris Claremont já estava com os seus dias contados no que toca à escrita de estórias dos X-Men, tanto que lhe arranjaram um título um bocado fora do contexto e que não influenciava muito a continuidade da cronologia mutante - X-Treme X-Men, uma fiasco total que tanto pecava por um argumento desprovido de imaginação, sempre a insistir nas mesmas fórmulas, como também por ter a participação de mais um artista duvidoso, Salvador Larroca, dotado de pouca criatividade.
Só Morrison conseguiu depositar alguma confiança na extensa lista de fãs dos Mutantes, tanto que a sua fase no título New X-Men, lançada integralmente aqui em Portugal pela Devir, faltando apenas o spin-off Here Comes Tomorrow (um dos maiores motivos de ódio pela Devir por parte dos leitores portugueses), durou mais de 40 edições. O problema - tornou-se um clássico controverso na história dos Mutantes, em grande parte por causa dos excessivos retcons, mais tarde, feitos pela Marvel quase que apagando todo o sentido e significado que Morrison quis transpôr. Digamos que a Marvel já devia saber no que se estava a meter quando contratou Morrison - exemplo das suas maluquices insanas pode ser a recente run em Batman, que tanto faz a delícia dos fãs como também os deixa confusos.
Grande parte desta controvérsia foi também alimentada pela caracterização crua e nua de Magneto, que em New X-Men foi descrito como um terrorista sem qualquer valor moral que se preparava para assassinar grande parte da população humana de Nova Iorque através de crematórios, uma óbvia referência aos campos de concentração Nazis e uma forma de responder ao ódio mútuo entre Magneto e grande parte da população americana. A Marvel não gostou, dando a entender que nem sequer tinha conhecimento da estória que Morrison pretendia contar, dando-lhe uma liberdade criativa que mais tarde se tornou numa hipocrisia editorial. Esta história está a precisar de uma reileitura, pois apenas sei que na altura em que a li, senti que era o melhor que já tinha lido enquanto fã de BD, mas ainda era jovem. Agora não sei se ficarei com a mesma impressão, mas espero tirar as minhas dúvidas ainda este ano.

Enquanto Morrison destruiu Genosha, Bendis disse "No more mutants" e a profecía cumpriu-se. Os mutantes ficaram reduzidos a pouco menos de 200 espécimes e o objectivo de grande parte dos seus inimigos estava cumprido - a Terra era agora habitada por um número reduzido daquela espécie e vários ex-mutantes dividiam-se entre uma espécie de contentamento/ frustração. Enquanto que uns esperavam ansiosamente aquele dia, outros descobriam que aquela era uma tragédia. Ainda outro grupo apercebia-se que não sabia bem aquilo que queria.
O próximo e último passo que para mim tem uma importância realmente verdadeira nesta nova década e que para mim é bem superior a qualquer novo evento Mutante, tem o nome de Astonishing X-Men, dos formidáveis Joss Whedon e John Cassday. Na minha opinião, este é o género de história que tem tudo para ter sucesso. 24 comics é o número ideal para construir uma trama complexa, culminando tudo num especial oversized, que como não poderia deixar de ser, torna-se brilhante e faz aquilo que qualquer estória de qualidade faz - deixa pontas soltas, deixa o leitor agarrado à espera de mais, mesmo este sabendo que não haverá mais. Além disso, esta série não se baseia em nenhum evento recente, pois apenas depende si própria, utilizando uma formação clássica que até tem direito a regressos dos mortos. Mesmo assim, não deixa de ser uma clara continuação directa da série de Morrison e talvez pretenda ser uma estória direccionada para os leitores mais exigentes (e uma forma da Marvel se redimir da sua atitude).
Apesar de Whedon caracterizar tradicionalmente a equipa dos X-Men, regressando aos uniformes habituais, ao contrário de Morrison, notam-se diversas referências a New X-Men - a série deu direito à reacção menos pacata do Wolverine ao relacionamento de Emma Frost e Cyclops, além de que a equipa atravessa uma crise na sua formação, facto que caracterizou um pouco o fim de New X-Men. Mas esta série não é só feita de referências, aqui também se nota alguma descentralização quanto ao destaque de cada personagem, não sendo os líderes da equipa que o recebem mais. Nota-se bem que Whedon tem alguma familiarização com Kitty Pride, tendo dado uma utilização à personagem que faz lembrar as estórias mais clássicas em que esta participou. A personalidade forte e corajosa está lá toda e é por isso que esta se torna a minha preferida e quiçá melhor participação nesta série.
Está série, de 4 volumes, tendo já dois sido editados pela BdMania em capa dura, são excelentes aquisições e mostram que através de 4 acções distintas ao longo desses volumes, se conseguem solidificar várias interligações entre as personagens e todos os acontecimentos descritos por Whedon. Esta é assim uma das estórias com mais qualidade na linha-X desde que a era de Chris Claremont terminou, só sendo superada pela fase de Morrison, mas não deixa por isso de ter a sua devida qualidade. O último volume desta série, Unstoppable, é mais uma das leituras do ano, fazendo com que esta série mereça ser lida por qualquer fã ou não fã de X-Men - é uma estória muito especial que mostra que é possível fazerem-se coisa que não estejam ligadas aos eventos principais da editora, mesmo que o seu lançamento seja simultâneo. Aguardem uma análise à série Novos X-Men, de Morrison, editada pela Devir.

Nota 10/10 - Obrigatório!

7 comentários:

  1. Tens razão, eu ainda não li os dois últimos volumes de Astonishing X-Men, mas já fiquei viciado na série! É muito boa, para mim também foi 10 em 10!
    LooL

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  2. "o spin-off Here Comes Tomorrow (um dos maiores motivos de ódio pela Devir por parte dos leitores portugueses), durou mais de 40 edições"

    Mas ha historia não é 1 spin-off,é a conclusão da Run do Morrison,spin-offs são as minis das Fenix (endsong ev warsong)"filhas" desse arco, e 1 de Astonishing porque as referencias a Fenix não sao casuais.

    "Esta é assim uma das estórias com mais qualidade na linha-X desde que a era de Chris Claremont terminou, só sendo superada pela fase de Morrison, mas não deixa por isso de ter a sua devida qualidade"

    Totlmente de acordo.

    Ps:celtic por favor apaga om outro comentario

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  3. Totalmente de acordo. Whedon é um dos maiores génios criativos do novo milénio e Cassaday um dos mais visionários artistas de banda desenhada. Uma run absolutamente genial cujo único defeito é a sua "curta" duração.

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  4. Grimlock, chamei ao Here Comes Tomorrow de spin-off porque a estória que o Morrison quis contar já estava acabada. Eu sei que são mais números da série, mas é apenas um arco onde pelos vistos o Morrison deixa mais pontas soltas, como rampa de lançamento para o AXM. Anyway, ainda me falta ler esse.

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  5. Por acaso ate esplica muita coisas que ele semeou no 1 e 2 encadernado(S),quem era o SUBLIME NA REALIDADE,como o Ciclope e Emma se "acasalaram" E PORQUE,o destino FINAL da FeniX,o regresso da Cassandra Nova,etc.
    A Marvel e o Peck é que voltam a pegar em elementos da Run do Morrison,como o Quinton Quire,as Gemeas Cucos,os Shiars,etc,etc,tudo junto com o mito da Fenix renascer da cinzas da muito $$$$$$$$,para a Marvel
    E segundo o Morrison na Wizard esse arco é uma homenagem ao classico dias de um futuro esqucido.

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  6. Olá.

    Excelente análise Celtic.
    Assino por baixo o comentário do Grimlock sobre o HCT.

    Sobre AXM.
    É verdadeiramente um título muito bom. Infelizmente notam-se alguns erros, como o facto de não se saber o que é que realmente acontece com a Cassandra Nova depois do contacto mental com a Armor e por vezes o Whedon enrola um pouco. Mas são as únicas coisas que lhe aponto que entendo como indiscutíveis.
    Tenho um reparo e este é pessoal.
    Acho que foi desnecessário aquela criação desenfreada de personagens por parte do Whedon. Podia fazer algo como o Johns está a fazer e pegar em décadas de cronologia e atá-la como deve ser. Porque os X-Men, como tu referiste, como um dos conceitos mais sacrificados durante a crise de 90.
    Acho os 2 primeiros arcos excelentes, mas os últimos dois são um pouco enfadonhos e previsíveis.
    Os desenhos do Cassaday são magníficos.
    O que a Marvel perde em argumentos ganha em arte.

    Abraços e Parabéns à Área.

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  7. Curiosamente, os dois volumes que mostraram mais qualidade foram para mim os dois últimos, precisamente porque o Whedon consegue fazer uma coisa mais complexa do que nos dois anteriores.
    Nota-se que nos primeiros arcos, a acção é muito rápida, e perdem-se certos pormenores com tanta velocidade, o que não desgostei, mas fiquei com a ideia que a continuação é bastante melhor.
    E se há coisa que eu gosto é de ver um status quo, criado na própria série, a ser deitado abaixo de uma forma viciante. O Whedon fez-me isto. Tal como Morrison me fez há uns anos.

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