27 maio 2009

Marvel 1985 soube a pouco...

Finalmente consegui terminar a leitura deste interessante trabalho experimental de Mark Millar. Digo experimental pois, infelizmente, pareceu-me sido um pouco feito em cima do joelho e as suas ideias pareceram-me um pouco sub-aproveitadas. "Ah, não sei quê, mas o Marvel 1985 já estava para ser publicado há anos", podem dizer vocês, mas o que é facto é que o Millar ,ou não encheu devidamente as 6 edições que tinha em mão ou então ainda precisava de mais umas quantas páginas para fazer uma obra que me enchesse as medidas. Inclino-me mais para a segunda opção, a história pareceu-me muito pouco desenvolvida e tenho a impressão que a esta série necessitava de, à vontade, mais umas 72 páginas de contextualização. A acção é praticamente sucedida à velocidade relâmpago - num dia o Toby vê o Red Skull na janela de uma casa de horrores e no dia a seguir já está a viajar para o Universo Marvel! E entretanto já o Galactus está a devorar o planeta Terra. Eu entendo que o Millar não esteja numa situação particularmente confortável, afinal está com uma dezena de trabalhos em mão, até o War Heroes foi interrompido sei lá por quantos meses (actualmente ainda só saíram duas edições). Mas enfim, um autor desta nomeada deixa sempre um gajo triste por fazer uma história que saiba a tão pouco. Fiquei mesmo chateado que uma história com tanto potencial se ficasse por apenas 6 edições, isto pedia uma maxi-série! O tempo que a Marvel anda com aquelas tretas do Avengers/ Invaders tinham esticado esta que é bastante melhor. Não que o desenhador, Tommy Edwards fosse o melhor para essa tarefa, dada a sua grande lentidão em trabalhar com prazos, mas julgo que não haveria ninguém melhor para 1985. A sua bela "dualidade" de traços (ora num tom mais realista, ora num tom infantil) apenas poderia ser devidamente esquecida com Stuart Immonen nas rédeas, mas esse já estava ocupado.
Adiante. O ponto alto desta história foi a extrema facilidade com que me identifiquei com a personagem principal, Toby Goodman. Aliás, as primeiras cenas fazem-me instantaneamente lembrar-me das minhas visitas à 9º Império onde pela primeira vez comprei comics americanos. Aquelas conversas com o dono da loja, as prateleiras cheias daqueles comics todos que queremos levar, mas que infelizmente não podemos, ou porque não há mais dinheiro no bolso ou porque o espaço em casa não é suficiente. Aquele desejo de levar 20 comics para casa e querer saber tudo o que se passa neles, mas com a limitação de só poder ler um de cada vez. Belos tempos, belas recordações. É por isso que 1985 tem tanto potencial, o Mark Millar sabe aquilo que faz e provavelmente também ter-se-á inspirado na sua infância, esta história pode muito bem representar um dos seus sonhos mais antigos - o de ter o Universo Marvel em peso no mundo real. Isto fez-me lembrar o verdadeiro motivo porque eu e talvez muitos outros tenham começado a ler BD - éramos transportados para um mundo onde os problemas eram quase sempre resolvidos, os heróis acabavam sempre por ganhar o dia, por mais forte que o adversário fosse, por pior que um dia fosse para um herói, algo de bom acabava sempre por acontecer. Era um mundo perfeito. Quem não queria morar por lá? Mas isto era no início. Hoje em dia parece que estamos a viver uma era melancólica dos comics, as histórias são cada vez mais sérias e a magia da simplicidade parece estar a perder-se cada vez mais (felizmente anda por aí um senhor chamado Robert Kirkman). No entanto é uma evolução completamente natural, as abordagens de hoje em dia não são mais do que um reflexo dos dias que se vivem hoje.
Para mal dos meus pecados, este amor inexplicável por mitologias que nem reais são, não foi assim tão explorado como eu queria. Mesmo assim gostei da construção psicológica do Toby - um puto inteligente que prefere queimar os miolos a tentar descobrir quem seria o herói por detrás da máscara em vez de se aplicar na escola e um dia tentar ser alguém. Um preguiçoso do pior. Todos fomos assim em alguma parte das nossas vidas... talvez ainda sejamos ahaha. Para melhorar a coisa, o miúdo tinha um pai caraças, o verdadeiro herói desta história! Um nerd do pior que sabia ainda mais sobre o Homem Aranha que o próprio Peter Parker! Acho que ele ainda estava mais encantado da vida por ver um Capitão América de carne e osso a lutar contra o Red Skull que a própria miudagem da cidade.
Mark Millar confirma aqui porque é um dos melhores naquilo que faz, mesmo não sendo um trabalho de topo demonstra grande criatividade. As ideias correm-lhe nas veias, não há outra explicação. Espero que o Quesada não eleve os seus níveis de "safadeza" e decida fazer uma sequela. Pior que isto me ter sabido a pouco é passar a saber-me mal! Mesmo assim não tenho muitas esperanças que os meus desejos sejam concretizados, já não confio em nenhum daqueles badamecos da Marvel.

Argumento: Mark Millar / Desenho: Tommy lee Edwards
Marvel Comics (Marvel 1985 #1-6)
Nota: 7/10

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