O Lanterna Verde é daquelas personagens que nunca me tinha despertado grande interesse até porque foram raras as vezes que ouvi falar dele quando ainda era um caloiro nesta andanças, se é que já não sou. Como óbvio só se ouvia falar do Batman e do Super-Homem no que tocava à DC Comics, pelo que um grande núcleo de personagens desta editora me era desconhecido. Não sei se era por ser um grande fã da Marvel e lhe dedicar mais tempo, mas sempre tive a sensação de que a DC geria mal as suas personagens no que tocava à divulgação das mesmas ao comum dos mortais, ou seja, aquele que não dedica tempo massivo a ler estas preciosidades que tanto adoramos. O Batman era sobejamente conhecido (este "era" refere-se aos já idos anos 90, altura em que eu começava a minha vida consciente): tinha tido uma passagem algo bem sucedida nas lides cinematográficas e possuía um carisma do outro mundo por ser o super-herói mais próximo do mundo real, não tendo qualquer tipo de poderes, rendendo-se ao engenho insuperável da mente humana. O Super-Homem gozava de um estereótipo que se usa desde tempos bastante antigos, talvez até antecedentes à sua origem: "Olha, este aqui deve pensar que é um Super-Homem", "Ai, és tão forte que pareces os Super-Homem", e assim conhecíamos nós o Super-Homem, o herói mais citado de sempre, provavelmente. Mas o Lanterna...
Onde é que ele andava, senhores?! Talvez perdido na sombra da Era Dourada onde gozou de um razoável sucesso, fruto de um conceito original que permitia criar um vasto leque de estórias atraentes para os leitores. Mas julgo que foi na Era Prateada que o Lanterna alcançou o seu auge ao mudar-se de armas e bagagens para a DC Comics, visto que pertencia à All-American Comics. As mudanças foram imensas desde o fato da personagem até à própria criação de uma nova identidade, passando Hal Jordan a ser o possuidor do anel verde. A mitologia do Lanterna expandia-se agora, visto que a origem dos seus poderes era galáctica, o que permitia uma expansão, também ela galática, de cenários em que a personagem se poderia integrar. Era um novo mundo de possibilidades que até hoje continua a ser explorado, e muito bem na minha opinião. Muitas personagens passaram por uma crise de originalidade ao longo dos anos em que estórias se reciclam todos os anos, mas este cenário dos Green Lantern Corps que se ocupam a vigiar um universo dividido em diversos sectores é sem dúvida um dos mais abrangentes dos comics.
Assim, após diversas metamorfoses, chegávamos a uma fase bastante falada do Lanterna, da autoria de Denny O'Neil e Neal Adams. Na altura teve péssimas vendas e acabou por ser cancelada, mas tornou-se um símbolo da cultura pop através dos anos, recebendo críticas bastante positivas de jornais como o New York Times ou a Newsweek. O Arqueiro Verde foi o convidado de honra durante 14 edições, onde até houve espaço para a primeira aparição de John Stewart (uma pequena estória de 10 páginas bastante aconselhável). Denny e Neal queriam introduzir temas socio-culturais de modo a que os comics se aproximassem mais da realidade, chamando assim um novo público às teias dos quadradinhos. O Lanterna e o Arqueiro comprometiam-se assim a viajar por toda a América em busca de problemas que assolavam sociedade, levando consigo na bagagem um dos Guardiães do Universo de modo a que este pudesse observar com os próprios olhos a corrupção e a imoralidade que pairava sobre a sociedade. O resultado foi um olhar sobre temas como o vício nas drogas, sobre-crescimento de populações, escravatura nos tempos modernos, etc. Julgo que esta aproximação à realidade marcou um começo neste tipo de abordagem, ou pelo menos serviu para cimentar esta posição dos comics em relação ao mundo real. Até então a BD era apenas vista como um escape do dia-a-dia, onde todas as tramas acabavam em bem, de modo a que o leitor pudesse sonhar com esse tal mundo de fantasia. Talvez tenha sido por isso que esta storyline não tenha sido tão rentável para a DC pois a sociedade em geral costuma dar-se mal com a verdade e com aquilo que realmente acontece na nossa cidade, no nosso país, no nosso mundo.
A arte de Neal Adams reflecte um pouco esta mudança, tendo também ela uma abordagem já mais realista onde se começou a dar prioridade aos rostos das personagens e às suas emoções, um pouco como o Mestre Romita sabia fazer na altura do Aranhiço. Adams detinha um estilo bastante definido e não admira que muitos artistas tenham ido beber à sua fonte.
PONTOS POSITIVOS: a abordagem feita ao mundo real. As personagens e as suas personalidades foram bastante bem exploradas neste contexto onde, apesar da camaradagem existente entre o Lanterna e o Arqueiro, fica sempre patente uma certa rivalidade de ideologias bastante vincadas. Dum lado temos o GL, um homem da Lei que julga que qualquer crime deve ser julgado pelos órgãos competentes, ao invés da justiça praticada pelas próprias mãos, uma marca do AV, um tipo algo prepotente e irracional que acredita que o mundo está a apodrecer depressa demais.
PONTOS NEGATIVOS: não são muitos. Talvez a única coisa que me faz moça nas estórias desta era é a certa ingenuidade com que as mesmas são contadas, mas isso é algo característico daquele tempo.
NOTA: 9/10
Assim, após diversas metamorfoses, chegávamos a uma fase bastante falada do Lanterna, da autoria de Denny O'Neil e Neal Adams. Na altura teve péssimas vendas e acabou por ser cancelada, mas tornou-se um símbolo da cultura pop através dos anos, recebendo críticas bastante positivas de jornais como o New York Times ou a Newsweek. O Arqueiro Verde foi o convidado de honra durante 14 edições, onde até houve espaço para a primeira aparição de John Stewart (uma pequena estória de 10 páginas bastante aconselhável). Denny e Neal queriam introduzir temas socio-culturais de modo a que os comics se aproximassem mais da realidade, chamando assim um novo público às teias dos quadradinhos. O Lanterna e o Arqueiro comprometiam-se assim a viajar por toda a América em busca de problemas que assolavam sociedade, levando consigo na bagagem um dos Guardiães do Universo de modo a que este pudesse observar com os próprios olhos a corrupção e a imoralidade que pairava sobre a sociedade. O resultado foi um olhar sobre temas como o vício nas drogas, sobre-crescimento de populações, escravatura nos tempos modernos, etc. Julgo que esta aproximação à realidade marcou um começo neste tipo de abordagem, ou pelo menos serviu para cimentar esta posição dos comics em relação ao mundo real. Até então a BD era apenas vista como um escape do dia-a-dia, onde todas as tramas acabavam em bem, de modo a que o leitor pudesse sonhar com esse tal mundo de fantasia. Talvez tenha sido por isso que esta storyline não tenha sido tão rentável para a DC pois a sociedade em geral costuma dar-se mal com a verdade e com aquilo que realmente acontece na nossa cidade, no nosso país, no nosso mundo.
A arte de Neal Adams reflecte um pouco esta mudança, tendo também ela uma abordagem já mais realista onde se começou a dar prioridade aos rostos das personagens e às suas emoções, um pouco como o Mestre Romita sabia fazer na altura do Aranhiço. Adams detinha um estilo bastante definido e não admira que muitos artistas tenham ido beber à sua fonte.
PONTOS POSITIVOS: a abordagem feita ao mundo real. As personagens e as suas personalidades foram bastante bem exploradas neste contexto onde, apesar da camaradagem existente entre o Lanterna e o Arqueiro, fica sempre patente uma certa rivalidade de ideologias bastante vincadas. Dum lado temos o GL, um homem da Lei que julga que qualquer crime deve ser julgado pelos órgãos competentes, ao invés da justiça praticada pelas próprias mãos, uma marca do AV, um tipo algo prepotente e irracional que acredita que o mundo está a apodrecer depressa demais.
PONTOS NEGATIVOS: não são muitos. Talvez a única coisa que me faz moça nas estórias desta era é a certa ingenuidade com que as mesmas são contadas, mas isso é algo característico daquele tempo.
NOTA: 9/10
0 comentários!
ResponderEliminarnão se pode ter isso XD
Esqueceste-te de referir que foi nesta altura que se divulgou pela primeira vez uma das mais importantes páginas de DC, O Green Lantern a "ouvir" que não fazia nada pela raça negra. (devias por aí essa página).
De qualquer maneira excelente post, boa maneira de voltares e esperemos que seja definitivamente.
Abraço
PS: adiciona-me aí no msn david.rbastos@hotmail.com
David Bastos
http://thecomiccritic.wordpress.com/
Hey David, long time no see! De facto tens toda a razão, li isto há tão pouco tempo e esqueci-me de referir essa famosíssima página xD
ResponderEliminarVou já a fazer a devida adição do teu blog aqui aos favoritos. Abraços!
Muito obrigado, já lá estás como sempre no blogroll ;)
ResponderEliminarcontinua com o bom trabalho.
Espero fazer o mesmo.
Celtic
ResponderEliminarBem re-vindo!
Essa é parte da "vida" de Hal Jordan que menos se coaduna com o propósito do espírito Green Lantern. Ser Green Lantern é ser uma força cósmica, e aqui Jordan está muito ligado aos problemas da Terra (EUA). Foi devido a esta aposta falhada que os Lanternas Verdes caíram a pique (vendas) e o título foi mesmo suspenso durante uns tempos.
Tudo isto que eu disse não quer dizer que as estórias desta altura não fossem boas, antes pelo contrário, até foram editadas excelentes estórias. Mas não era isso que os fãs do GL queriam!
Quanto ao GL original, assim ficou! Apesar do surgimento da tropa verde Alan Scott continuou o seu caminho com brilho! É apenas um Lanterna diferente.
Estou a começar a ler os Archives Green Lantern da Silver Age, e estou a adorar!
É sem dúvida o meu super preferido!
Abraço
Estava à espera que viesses para me iluminar mais com tua sabedoria quanto ao GL :D
ResponderEliminarJá tinha visto que andas a ler coisas mais antigas e até fiquei algo intrigado com o Alan Scott. Seguramente não tem nada a ver com o Hal e com o mito galáctico dos Lanternas, mas talvez seja uma abordagem também ela divertida.
Quanto às estórias deste volume, de facto não muito tinham a ver a cena inter-galáctica, mas talvez fosse uma vertente que estivesse algo saturada na altura, não sei bem. Mas é óbvio que GL a sério não é o viajnte da América, mas o viajante do Universo!
Por acaso eu prefiro a fase do Lorde Malvóllio em NOVOS Titas uma das 1as coisas do Lantern que eu li,e o Lantern chegou a ter uma segunda fase mais pé no chao,ao lado do Guy Garner tambem em Novos Titas,e no fim lá volta ele para o espaço(ambas não compiladas em tpbs).
ResponderEliminarBem revindo de volta celtic.
Pena o teu blog estar cheio de traças pá. :)
ResponderEliminarManuel, por acaso tenho alguma curiosidade quanto a essa fase do Hal/Guy, pois o team-up até pode ser do género deste TPB que eu li. Parece-me que o AV e o Guy são algo parecidos em termos psicológicos (bastante voláteis).
ResponderEliminarObrigado pelo incentivo :)