30 agosto 2009

Sacanas Sem Lei

"You know somethin', Utivich? I think this might just be my masterpiece."
Estas palavras foram imortalizadas pelo Tenente Aldo Raine, mas a mim quer-me parecer que Quentin Tarantino talvez se reveja nesta linha.
Inglourious Basterds, como no original, é um filme difícil descrever. Enquanto somos levados numa trama intensa sobre uma guerra já mais que conhecida por nós, acompanhada por violência e humor nas horas certas, vislumbramos também cenários quentes e tensos à moda de um bom velho western spaghetti que é, aliás, uma descrição próxima daquela que QT faz do seu filme ("...spaghetti western, but with World War II iconography."). O resultado foi estonteante, ponto final, começando logo pelo brilhante primeiro capítulo que soube jogar com a expectativa em torno do filme. Parecia que nunca mais veríamos um fim ao mesmo de tão longo que ele era,  já que Christoph Waltz, na pele do soberbo, mas cínicio nazi Hans Landa, tomou conta da acção sem nunca ter sacado do revólver por ele próprio, usando apenas as suas fluídas palavras numas 3 línguas diferentes. Sensacional! Logo a partir destes minutos iniciais ficámos a saber que estava ali um grande actor, apesar da fama não jogar muito a seu favor. Ao que parece, as séries de televisão eram mais a sua onda e o cinema nunca foi a sua ocupação principal, mas tenho a impressão que a partir de agora convites não faltarão. A sério, o homem é mesmo bom actor.
Sacanas Sem Lei é pura ficção. Ao início não parece, apesar do ar cómico que é mostrado quando, na verdade, se pretende contar uma estória sobre nazis. Apesar do humor evidente, Tarantino consegue lançar elementos cómicos inesperados quando a trama se encontra em pontos intensos. É aí que reside a arte deste realizador. Já em Kill Bill se notavam técnicas deste género que faziam lembrar claramente filmes dos anos dourados (grande inspiração do QT), tal como bandas sonoras claramente influenciadas pelas longas-metragens de cowboys. Os Sacanas são um grupo de americanos judeus que têm tanto prazer em matar um nazi como um nazi tem em exterminar um judeu (podemos dizer que a maior inspiração deste grupo são os nazis, por mais irónico que seja), fazendo inclusivamente uma marca na testa daqueles que tiverem a sorte de sobreviver, à semelhança dos números que eram "gravados" nos braços dos judeus que iam parar aos campos de concentração. Brad Pitt a.k.a. Tenente Aldo Raine, é o seu líder e adora cortar os escalpes dos nazis, não fosse o seu nome de guerra "Aldo The Apache", uma referência ao que os índios faziam aos seus piores inimigos. Destruir o Terceiro Reich é o objectivo principal. À medida que se vão recrutando mais aliados judeus sedentos de sangue, a conspiração vai ganhando corpo. Entretanto, por mero acaso, uma outra conspiração é posta em marcha. Uma antiga vítima d' "O Caçador de Judeus" a.k.a. Hans Landa é a mente por detrás deste plano, que tem um desfecho tremendamente poético, uma das melhores cenas do filme em que, enquanto o seu cinema está em chamas (lembrando, aos mais atentos, o "Cinema Paraíso"), Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent) projecta o seu riso bárbaro no fumo do fogo que trás a morte aos alemães que tentam desesperadamente fugir, sem sucesso algum! Fenomenal!
Não queria arriscar muito e dizer que este filme é uma obra-prima, mas que está muito perto disso é verdade. Um bom filme pretende ser uma mescla de emoções, humor, ódio, tragédia, felicidade, drama e outras coisas mais. E o sacana do filme tem isto tudo. Além de que finalmente vejo um filme de nazis em que não sei qual vai ser o fim, já que isto de nos basearmos em factos históricos tem o seu quê de inconveniente cinema. Cuidado que este já se candidatou aos Óscares...

8 comentários:

  1. Realmente o actor Christoph Waltz esteve excelente, fez todas as cenas resultarem! Dava prazer ouvir o actor em diferentes linguas, Ingles,Frances e Alemao.
    Os Sacanas para cumprirem a missao tiveram que passar por Italianos e não é que a personagem do Waltz tambem falava italiano?
    "Outra vez, mas quero ouvir a musicalidade do seu nome"
    "Mar-gua-rii-ti!"

    Na minha opinião a cena do bar tinha tudo. dialogos tarantinescos, critica de sociedade, suspense e humor, um impasse como no Reservoir Dogs e até um duelo à mexicana:)

    Acredito que o Quentin acredita ser o melhor filme dele, pois imediatamente a seguir à frase "I think this might just be my masterpiece" apareceu o nome dele.

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  2. De facto, jackolta (ou Hughes como no fórum, quer-me parecer) o Christoph foi Deus neste filme. Tudo o que ele dizia brilhava, fosse em que língua fosse. E aquela parte que tu referes em que ele topa o péssimo italiano dos sacanas é divinal. Um Óscar para o homem, por favor!

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  3. Ai..um oscar para o Titio Tarantino...seria o merecido prémio para todo o cinema alternativo.

    Já viram, um gajo que começou do nada, que recusou 'vender-se' aos grandes estúdios agora ganhar o galardão dos que o sempre o rebaixaram?

    Se tal acontecer hei-de fazer directa para ver a cerimónia.

    Sim, e um Óscar para o Waltz que é sem dúvida o personagem principal e não um simples secundário.

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  4. Celtic já vi os bastardos agora é a minha vez de te dizer vê o Pulp Fiction :P

    A sério aluga, compra ou saca mas vê-o rapidamente é daquelas peças de cinema obrigatórias e acho que muito dificilmente não vais adorar.

    E para dizer qualquer coisa sobre este. Sim é um filme divertidíssimo e que bem lá fica a música de Bowie (apesar de ser de outro filme).

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  5. Ah e esqueci-me de dize que Tarantino já tem um óscar. O de melhor argumento original por Pulp Fiction. Filme vencedor da palma de ouro em Cannes.

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  6. O Pulp Fiction tá aqui no pc a ganhar a pó... E eu ontem ainda fui à procura do DVD e disseram-me que estava esgotadíssimo! Parece que vou ter de o ver no pc.

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  7. acho óptimo este tipo de criticas neste blog! continua... é que é mesmo bom ler criticas tão semelhantes as minhas! ;)

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  8. André, só agora é que reparei neste teu comentário. Fiquei sem perceber se gostaste de constatar que temos opiniões semelhantes ou se me estás a acusar de plágio. Nem te conheço, portanto vou tentar riscar a segunda opção.

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