25 dezembro 2010

Hellboy - Library Edition Vol. 1

A obra de referência de Mike Mignola
Hellboy conseguiu definir o seu espaço na vasta Banda Desenhada norte-americana há já mais de uma década, coisa com que as mais recentes séries de autor apenas podem sonhar. Este foi e é um feito de louvar pois assentar uma personagem num mercado competitivo como este, dominado pelos heróis comuns e pelos valores do passado, é algo que requer o seu esforço, dedicação e determinação. Mike Mignola reuniu isto tudo e com um pouco de sorte conseguiu singrar no mercado. É claro que os anos 90 foram propícios a este boom por parte da editora Dark Horse, visto que foi nesta década que se viveu uma grande disparidade em termos de popularidade dos comics. Ora vejamos.
Foi nos fins da década de 80 e inícios da década de 90 que começou um período algo negro do mainstream norte-americano. Se por um lado fomos presenteados com o aparecimento de Alan Moore (Watchmen) e Frank Miller (Batman: The Dark Knight Returns), por outro assistiu-se ao nascimento das famigeradas mega-sagas (o passatempo favorito de Joe Quesada), cujo desenvolvimento só era possível caso todas as personagens de um universo nela participassem. A DC foi a primeira a ter esta ideia de juntar dezenas de heróis numa só estória, mas foi a Marvel que se adiantou e publicou pela primeira vez este formato (Secret Wars). Já aqui se faziam sentir as rivalidades entre as duas mais editoras de comics, tal como já se notava uma certa ingenuidade dos editores da DC Comics que não conseguiram manter o sigilo adequado para que não houvesse uma desconfortável fuga de informação. Talvez não tenham aguentado ficar com a ideia para eles próprios. Era preciso gritar aos ouvidos do mundo.


Neste contexto irrespirável de grandes eventos que prometiam abalar os universos dos super-heróis, surgiram algumas editoras independentes. Tinham pouca mão de obra, mas sabiam usar o Photoshop. As edições destas independentes eram mais cuidadas a nível gráfico o que, comparado com o trabalho da DC e da Marvel, os fazia parecer desenhos de um miúdo de primária ao lado de complexos designs de uma qualquer construção de Gustave Eiffel. Mesmo com os X-Men de Chris Claremont e Jim Lee a tarefa era difícil. Notava-se uma certa saturação dos heróis mais conhecidos e o público afastava-se então para outra paragens. E não falo só da Image e da Dark Horse. Nos anos 90 também surgiram os jogos de vídeo e os Nirvana.
Apareceu então o Hellboy em 1993. Modesto e sem grandes pretensões, surgiu um bocado no seguimento do sucesso de Sin City, também da Dark Horse. Isto serviu para criar um base de fãs que pôde então partir para a série de Mike Mignola.
O declínio dos comics continuou. Assistimos à morte do Super-Homem de uma forma que me pareceu algo triste. De facto havia uma necessidade gritante em chocar os leitores através de decisões editoriais pouco ortodoxas. O anúncio desta morte não era falso e de facto aconteceu, se bem que com o respectivo retcon já pré-destinado. Não esqueçamos também a caótica Saga do Clone (ai Peter Parker, tiveste azar...) onde o Homem Aranha sofreu a maior crise de identidade alguma vez vista nas estórias aos quadrados. E foi com actos desta natureza que a desconfiança dos fãs se começou a sentir. A década de 90 trouxe também consigo o negócio das capas alternativas e dos infinitos tie-ins, revistos laterais que eram fulcrais no entendimento de uma estória de um título principal. Isto para tentar resolver um problema criado pelas próprias editoras.
Mas Hellboy conseguiu regenerar a indústria. E não foi o único, quer queiramos ou não admitir. A Image também teve um papel importante nesta época em que todos julgavam só existir talento na Marvel e na DC. Hellboy consegue misturar elementos das eras clássicas e ganhar um brilho criado pelo sua qualidade. Enquanto série de aventuras e desventuras resulta muito bem com o seu enredo descomplicado, mas absorvente ao mesmo tempo, além do carisma efervescente da personagem principal.
Este primeiro volume da colecção Library Edition inclui as duas primeiras mini-séries de Hellboy, respectivamente Seed of Destruction e Wake the Devil. Estabelecem-se diversos paralelismos entre as duas, apesar do desejo de Mike Mignola ser o de manter cada capítulo da saga o mais independente possível. Grigori Rasputin é o vilão cujo objectivo se centrava no uso de Hellboy enquanto arma de destruição Este seria invocado pelas suas artes místicas de modo a servir para um mal maior. Os planos (como é claro) saíram furados e surgiu um herói inusitado que seria mais tarde "adoptado" pelos inimigos dos Nazis. Sim, porque Mignola aproveitou um contexto histórico para centrar as suas ideias. E que melhor período histórico poderia haver para começar em beleza esta fantástica estória? A partir daqui geram-se vários mistérios e surgem revelações, tudo acompanhado com doses cavalares de acção e suspense. Um encontro entre os sonhos da era prateada e o realismo dos dias de hoje.

Mike Mignola é de facto um vencedor ao ter criado esta personagem que rapidamente conquistou os fãs de Banda Desenhada norte-americana. Ao que parece, a Devir continua a apostar seriamente nesta série (juntamente com a G-Floy Studio), isto com com uma produção exemplar de edições de grande qualidade. Só não comprei estes volumes em português porque já se encontravam esgotados, o que dá uma ideia de relativo sucesso da edição de Hellboy em Portugal.

5 comentários:

  1. Boa analise,mas com as originais tens a certeza que sai tudo.Já para não falar que essa edição é a Ferrari de Hellboy e a portugua/dinamarca apesar de não serem mas de todo são os fiats punto,da linha.
    Com as da Há-de-vir/G-fui não garantias de nada.

    " Só não comprei estes volumes em português porque já se encontravam esgotados, o que dá uma ideia de relativo sucesso da edição de Hellboy em Portugal"

    Não sei se é bem sucesso depende muito da tiragem,e para teres uma ideia ainda a pouco tempo numa feira do livro fnac esse 2 volumes estavam a venda e com bastantes exemplares,e com grande desconto e ainda ficaram lá,por isso a peta do estam esgotados não pega.

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  2. Pois Optimus, sendo assim já não sei se está esgotado ou não. O que é facto é que toda a gente se queixa do mesmo, portanto assumi que já não houvesses Hellboys em português :D

    Até porque não os costumo ver na fnac, ao contrário dos Sin Citys, cujos primeiros números voltam sempre quando outros novos são lançados.

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  3. Estes dois primeiros livros tenho-os em Português do Brasil pela editora Mythos. Hellboy com calão brasileiro é um pequeno guilty pleasure

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  4. pessoal, sou da zona de sintra, alguem me pode indicar um sitio onde eu posso comprar revistas da dc regularmente, e um sitio onde não deixem de vender a meio de uma serie?

    obrigado

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  5. Este blog está a cheirar a mofo...
    Celtic, convêm varrer isto de vez em quando...
    :P

    Abraço

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