17 fevereiro 2006

Entrevista a Álvaro

Pessoal, mais uma grande entrevista realizada em exclusivo para a ÁreaBD!
Desta vez entrevistámos o Álvaro, um excelente artista, infelizmente não muito conhecido, mas com muito potencial. Ao longo da entrevista poderão ficar com um "cheirinho" do seu excelente trabalho, e pederão ver muito mais em: www.geocities.com/alvarossantos
Desde já agradecemos ao entrevistado pela sua disponibilidade e simpatia, que tornaram esta entrevista possível.

1. Como é que surgiu o teu interesse pela BD e pelo Cartoon?

-Não me lembro. Deve ser nato. Em puto não me lembro de ter lido nada sem desenhos. Aliás, acho que o primeiro livro (sem ilustrações) que li sem ter sido obrigado foi já quando andava na faculdade. Aí desforrei-me.

2. Quais foram os teus primeiros passos nessa área?

-Desenhos obscenos nas carteiras da escola possivelmente. Tínhamos de ocupar o tempo. Chegámos a fazer uma bd tipo Cadáver Esquisito onde entravam uns professores... mas não a divulgámos muito.

3. Para além de fazeres BD, tens mais alguma ocupação?

-É mais ao contrário. Para além das minhas ocupações, na formação profissional, nas explicações e em algum projecto de Arquitectura que surja, também faço bd.

4. Segundo o que vimos aqui, estás a fazer uma BD que, a nosso ver, tem bastante potencial.
O que pretendes fazer quando a acabares? Vais publicá-la?

-Tenciono publicar. Ou que a publiquem, mais precisamente. De início, quando tiver a bd concluída na mão, vou bater a umas portas e sondar as hipóteses. Depois, em função das respostas que obtiver, pensarei no plano B.

5. Podes dar-nos alguns detalhes sobre este teu trabalho?

-Quando comecei a pensar no projecto, a ideia era ser uma bd simples, rápida de fazer, a preto e branco, de baixo custo e hilariante. O objectivo era e é captar público, vender alguma coisa, dois ou quatro mil exemplares, para ter algum retorno financeiro e abrir caminho a mais projectos na mesma linha, em registos diferentes e a outros autores também.

Acabou por se tornar na bd mais complexa que já fiz. Das iniciais duas personagens, às tantas tenho quatro num diálogo de surdos a seguirem monólogos cruzados em conflito aberto com os monólogos dos outros. Gerir isto, gerir o ritmo da historia, gerir os ritmos individuais, evitar repetições gratuitas, gerir as redundâncias, manter o ritmo, não deixar o andamento ir abaixo, não acelerar, manter as expectativas no final de cada página (pode ser que isto seja publicado num jornal ou numa revista), manter a coerência de cada personagem ao exceder os seus limites, arranjar tempo e espaço para desenhar, etc. tem sido um pouco complicado. Neste momento já finalizei a página 40. Falta passar a tinta as últimas vinte. Depois é só digitalizar, dar uns retoques e, muito possivelmente, refazer a letra. Espero encontrar editores que apostem nisto.

6. As ideias para alguns dos teus trabalhos surgem de algumas situações do dia-a-dia ou directamente da tua cabeça?

-Surgem directamente de situações do dia-a-dia que ficaram retidas na minha cabeça. É uma espécie de purga.

7. Em que é que te formaste? E em que ano?

-Licenciei-me em Arquitectura, pela FAUTL em 1993. Ainda vou exercendo a actividade.

8. Tens alguma ideia dos teus futuros trabalhos?

-Tenho algumas ideias. Umas são sequências directas do «Sexo, Mentiras e Fotocópias», outras não têm nada a ver.

9. Na tua opinião, qual foi o melhor resultado que obtiveste numa obra tua?

-Este do Sexo, Mentiras e fotocópias e da bd que fiz para a exposição do Geraldes Lino no FIBDA de 2005 parodiando o Little Nemo (resultou bem). Também gostei do Marco e Daniel, do Xatoman e a do Arrastão que teve reacções interessantes no CentralComics. Mas esta das fotocópias está a dar mais luta.

10. Se pudesses escolher, que personagem de BD serias?

-Agora é que me lixaram. Sei lá. Uma daquelas personagem do Cosey que andam a vaguear pelo Tibete ou pelos Alpes à procura não-sei-do-quê... Um Garfield, não capado claro... Ou o Hulk, talvez... Às vezes apetece-me demolir umas coisas.

11. Do que leste de BD até agora, do que é que mais gostaste?

-Gostei do Quotidiano Delirante do Prado, do Corto Maltese na Sibéria, do Hulk x Wolverine do Sam Kieth, do Arzach do Moebius, do Peter Pan do Loisel... O que ando a gostar bastante de momento é da série Spaghetti Brothers do Trillo e do Mandrafina que anda a ser publicada a cores pela Vents d’Ouest. É uma moca.

12. O que achas do governo?

-Acho que os membros do actual governo podiam ser um pouco mais discretos nas suas intenções. E nos seus actos, já agora. Só por uma questão de pudor. Mas não adianta a gente queixar-se muito. Quando esses saírem, os seus lugares serão prontamente ocupados por outros idênticos com tem acontecido pelo menos nas últimas décadas.

Os políticos são um bom reflexo do país que os elegeu. É necessário começar pelos putos, bem cedo, mesmo antes de aprenderem a ler, explicar-lhes que o saque sistemático àqueles que ganham menos irá a médio prazo aumentar a diferença entre as classes económicas, criar mais criminalidade e aumentar o risco de um dia não poderem movimentar-se sem escolta militar.


13. Por fim, o que achas do panorama actual da BD em Portugal?

-Profissionais precisam-se! Mas antes disso convinha que os amadores que por aí andam tivessem mais oportunidades para publicar e que fossem pagos razoavelmente para continuarem nisto e um dia passarem a viver desta actividade. Para se fazer um trabalho em condições é necessária muita prática e experiência. Se não somos publicados, se o traço não evolui ao nível do dos funcionários da indústria dos mangás ou dos super-heróis, não podem vir depois rotular a inexperiência ou o desencanto por preguiça.

1 comentário:

  1. Gostei da entrevista.
    "Profissionais precisam-se",especialmene numa editora da qual voces sabem do que eu estou a falar.

    Abracos
    grimlock

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