Depois de o
Hugo Jesus mostrar o seu descontentamento na CC em relação à paupérrima e fraquíssima distribuição de que a
Panini em Portugal dispõe, venho aqui pelo blog falar um pouco da minha situação enquanto leitor, ao invés da posição do Hugo, dono da
loja Central Comics no Porto.
Compreendo que a situação de vendedor seja bem mais difícil que a de um leitor, pois apesar de não ser nada fácil encontrar um comic da Panini nas bancas habituais, mais ou mais cedo encontra-se sempre algo. Já com uma loja tal não acontece, pois ou se tem a sorte de receber os comics do fornecedor ou nada feito. E o que me mete mais aflição é o facto de o Hugo ter pedido cerca de 80 revistas (mais uns números atrasados) e ninguém se dignar a enviá-las. Pois bem, pergunto-me o que melhor será que um carregamento destes, não só em termos lucrativos como de divulgação do produto que a Panini queria (pois parece-me que já não quer) implementar no já frágil mercado português. Mais esquisito ainda é ver que nenhum representante da Panini se digna a tentar resolver este tipo de situações chegando até a ignorá-la por completo, o que se nota muito através dos e-mails que se recebem da editora, tanto a pedir números atrasados para as papelarias que cada um de nós visita como a tentar saber se chegam mais títulos a Portugal. As respostas são sempre do tipo "Ainda estamos a estudar o mercado" ou "Serão lançados x títulos, mas ainda não há previsões no que toca a datas. Passe bem, bom natal". Será que é este o tipo de atendimento que uma editora que trabalha em várias partes do globo tem de ter? Ou será que Portugal é o patinho feio do panorama da Banda Desenhada? É que parece que somos os únicos que não têm um mercado decente e forte e julgo que não é por culpa das fracas vendas mas mais por causa das impensáveis políticas de distribuição, pois é esse o factor que determina o fraco acesso a qualquer produto.
Eu até chegaria a comparar a procura por uma revista da Panini à Odisseia de Homero e acho que não estaria a exagerar nada. Aqui em Setúbal só há uma única papelaria que tem todos os títulos para venda e apenas numa quantidade de 1 ou dois exemplares no máximo. Em outras vê-se muito raramente um Homem Aranha solitário, pouco mais. Passado menos de uma semana do lançamento das revistas já nada se encontra à venda (pergunto-me porque raio não vêm mais revistas). A
9º Império, a
loja especializada em BD Setubalense, chegou mesmo a contactar a Panini a pedir que lhes fossem enviadas algumas revistas, mas prontamente responderam a dizer que quem tinha de ser contactado para tal efeito era a distribuidora. Seguiram-se então telefonemas, e-mails e no fim, para que o Homem Aranha ou os X-Men chegassem à loja teriam de vir acompanhados de revistas da Floribella (onde isto chega) e de outro que tais. Mais tarde essa manha das revistas adicionais terminou e a resposta final foi a de que não eram feitas distribuições para lojas especializadas. Moral da história: deslocamento zero. Não só é estúpido verificar que a primeira resposta poderia simplesmente ser a que foi dada em último lugar como também o facto de as lojas especializadas ficarem de fora. Que raio de sentido é que isto tem? Então distribuem no máximo 10 revistas por cada papelaria e uma loja de BD não consegue receber um carregamento que chega quase aos 100 exemplares? Isto é no mínimo (ou máximo) uma hipocrisia de todo o tamanho. As lojas especializadas em Portugal, apesar de já existirem num número considerável, contam-se pelos dedos, mas esforçam-se para que a BD não passe a ser um deserto num país que por si só está cheio de camelos, com um oásis por aqui e ali, e não têm direito a receberem um produto que é ideal para revitalizar os antigos leitores e dar novo material de leitura àqueles que preferem o português (ainda que noutro sotaque)?
Da minha parte chega. Coleccionei alguns números das revistas que cá foram distribuidas, mas já desisti. Não só pelo facto do produto escassear como também por a Panini ter enviado revistas que estavam a meio dos seus arcos, o que é um total desrespeito pelo leitor. O que ainda valeu o dinheiro foi o
Batman Ano 100 e a
Crise Infinita que pelo menos ficaram completos. De resto continuamos a assistir ao lançamento de pouquíssimos títulos (apenas
Homem Aranha,
X-Men e
Novos Vingadores) e também de uns certos TPB's que saíram no ano passado (
Quarteto Fantástico: O Fim e
Homem Aranha: No Reino dos Mortos), em que um dos quais até já tinha sido lançado pela Devir uns anos atrás, o que por si só é uma ideia estapafúrdia. Vem a Panini tentar singrar no mercado português e decisão final é a de lançar um livro que a maioria dos leitores já possui. Eu chamo a isto incompetência, daquelas que fazem comichão a qualquer um. E quando pensei que não haveria pior que isto, eis que a visionária Panini decide lançar uma das últimas mini-séries da Marvel,
Eternos, de Gaiman e Romita Jr. O lançamento em si não é o pior, mas sim o preço a que foi lançado -
18.90€ (!!). Tudo isto porque as vendas dos primeiros TPB's não foram muito convidativas (estranho não é?). "Ah, não lucrámos com aqueles, bora mas é inflacionar ali os Eternos que os portugueses são burros e compram na mesma". Bem, a mim é que não me apanham, não só por já ter a mini-série original como também por não ir na conversa de um roubo que ofende a minha inteligência. Mais facilmente comprava o HC a 29.99$ do que uma edição que nem 10€ vale.
O Hugo propôs o boicote a esta edição dos Eternos, mas eu apoio o boicote total a todo e qualquer produto da Panini, apesar de ser triste ver que assim não teríamos qualquer revista nas bancas, mas se continuarmos a ser enganados por meia dúzia de editores que nos querem dar a volta, assim nunca teremos qualidade nas nossas bancas. Há que tomar medidas extremas e apesar de sermos poucos neste país temos de fazer algo pela BD em Portugal. No panorama nacional há que dar graças à
BdMania e à
Vitamina BD, pois é este o tipo de editora que pensa um pouco nos seus compradores e pelo menos lança títulos que tentam agradar à maioria do público, isto subscrevendo um bocado as palavras do
Hugo.
A opção de inundar a Panini com e-mails também parece interessante, mas duvido que nos dessem ouvidos, mas não custa nada tentar e da minha parte segue já um e-mail. Parte desta situação depende de nós e temos de tentar mudar alguma coisa de modo a que a BD em Portugal ganhe mais crédito e não seja apenas uma arte menor. Aqui fica o meu testemunho.