MARVEL COMICS
Já muito falei por aqui desta fase do Homem-Aranha e ao longo de todas as análises tenho referido os altos e baixos desta série que promete ser irregular até ao fim dos seus dias. Tão irregular que até é possível que saiam grandes estórias como este New Ways To Die, um verdadeiro hino àquilo que é realmente um clássico do Cabeça de Teia. Esta é provavelmente a melhor storyline explorada até agora nesta nova vida e para isso contribuíram os talentos de dois autores que provavelmente serão lembrados no futuro. Falo de Dan Slott e John Romita Jr. O primeiro é de facto um caloiro nestas andanças dos comics e não detém grande experiência na sua escrita ao ser também ele irregular em alguns outros títulos, mas neste capítulo da vida do Aranha, Slott esmerou-se e criou uma estória de grande complexidade que conta com a participação de diversas personagens devidamente exploradas, além de se constatar facilmente que a essência das personagens clássicas é perfeitamente respeitada e brilhantemente utilizada. Norman Osborn fez-me lembrar alguns dos clássicos do Mestre Stan Lee e olhem que não é fácil fazer isto, tendo em conta o período conturbado que o senhor eu-sou-o-Duende-Verde-só-nas-horas-vagas vive.
Reparem que ando a ler esta série de forma nada linear, mas o entendimento da mesma não se perde de forma alguma. Um dos objectivos do Brand New Day foi o de apresentar alguma coerência entre entre as várias plot lines e tal sem sido respeitado. Mas coerência nem sempre é sinónimo de qualidade e o número excessivo de argumentistas dificulta a regularidade desta série. Ainda tenho esperanças que se volte ao formato clássico mensal em que apenas um argumentistas tome as rédeas. isso contribuiria para uma maior estabilidade que The Amazing Spider-Man tanto necessita.
New Ways To Die é fantástico! Quando o acabei de ler, a ansiedade pela sua sequela, Character Assassination, cresceu freneticamente. Enquanto Straczinsky me surpreendera por mostrar uma fase mais madura de Peter Parker, Dan Slott conseguiu dar uma grande frescura a conceitos antigos que já estavam demasiado desgastados. Já há muito que não via o Venom e o Duende Verde na mesma estória com um resultado final bastante convincente. Esteve quase tudo perfeito. E digo "quase" por alguns pequenos pormenores falharem no raciocínio do autor.
Uma dessas falhas foi até bastante cómica e fez-me reflectir um pouco sobre os tempos que se vivem hoje em dia, chegando eu à conclusão que se calhar estamos num protótipo de uma certa era dourada à semelhança do passado, em que os comics exploravam conceitos irreais que toda a gente gostava e encarava com relativa facilidade. Aquela ingenuidade característica da ficção dos Super-Heróis onde o herói, por mais dificuldades que enfrentasse, sairia vitorioso gloriosamente. Era esse ingrediente que fazia muitos de nós sonhar com um mundo melhor. Pois bem, indo directo ao assunto, há uma certa cena em que os Thunderbolts de Norman Osborn visitam a residência de Peter Parker, ficando este com a ideia de que tinham descoberto de novo a sua identidade secreta. Nada mais errado, apenas procuravam informações acerca da sua conexão ao Homem Aranha (relativamente às inúmeras fotos do herói que são publicadas no Clarim Diário). Na sala estavam Venom e o Homem-Radioactivo, dois sujeitos com poderes que mais tarde iriam ter um uso mágico! Depois de não conseguirem obter informações conclusivas, Osborn ordena que os seus subordinados procurem o próprio Aranhiço nas ruas de Nova Iorque. É então que Venom e o Homem-Radiocativo soltam um diálogo interessante, do género: "Nós conseguimos sentir o sangue radioactivo do Aranha...". Ora, isto é deveras curioso pois anteriormente tinham estado na mesma sala que o dito cujo e nada tinham sentido...
Isto leva-me a questionar-me se terá sido algo propositado ou apenas um mero erro de continuidade. Ou então Dan Slott nem sequer vê por aqui algo um erro. Também me leva a reflectir se isto será assim tão importante de corrigir ou se é algo que deveria ser mais frequente na banda desenhada. Vivemos numa era em que que tudo o que acontece em séries de ficção tem de ser respondido. As pessoas exigem respostas, ou pelo menos a maioria delas. Repugnam a ambiguidade e chateiam-se quando não lhes servem a papinha toda à boca. São raros aqueles que aceitam o convite à reflexão e obtêm alguma satisfação ao serem eles próprios a encontrarem respostas. Com tudo isto quero dizer que, se calhar, a Banda Desenhada tem se tornado demasiado séria nos últimos anos. Nós, seres humanos, tornámo-nos demasiados sérios e exigimos seriedade em tudo o que nos rodeia. Aquele que era o refúgio de divertimento para muitos tornou-se maioritariamente um espelho do mundo, em que a necessidade de ser realista e coerente se apoderou dos autores e das próprias editoras. A própria Marvel tenta excessivamente inserir a continuidade de acontecimentos verídicos na sua própria cronologia (exemplos da eleição de Barack Obama ou dos Atentados do 11 de Setembro). Será que a ficção está assim tão esgotada que precisamos de recorrer permanentemente àquilo que acontece no nosso dia-a-dia? Para isso já temos os jornais, a televisão ou a internet que já fazem questão de nos lembrar da porcaria de mundo em que vivemos, onde tanto acontecem coisas normais como absurdas e nunca antes vistas.
Talvez o mundo da Banda Desenhada se devesse concentrar nos conceitos fantásticos que eram a imagem de marca nas suas origens e não cair no erro de se escreverem estórias sob a premissa de "E se o Homem-Aranha vivesse no nosso mundo, como seria?". Existem selos específicos que servem esse propósito e não é necessário os universos regulares entrarem nesses caminhos. Este Brand New Day quer, ou pelo menos tenta, ressuscitar algum daquele sentimento dourado e místico do passado em que víamos coisas absurdas acontecerem nos comics, mas com quais ríamos e sentíamos alguma afinidade, ainda que com os seus altos e baixos. Eu próprio admito que sinto uma maior proximidade por um Watchmen, que se preza essencialmente pela aproximação ao mundo dos Homens, do que propriamente por um Homem-Aranha ingénuo, mas as estórias de heróis deveriam ser mesmo isso: ingénuas e por vezes incoerentes. Para chata e rija já nos chega a nossa vida que tanta vezes nos deixa de rastos (e felizes também, como é óbvio). Por mais difícil que às vezes seja aceitar isso, a verdade é que deveríamos andar mais ao sabor da onda e não rejeitar tão prontamente iniciativas que a Marvel e a DC Comics nos propõem, ou até a Image. Brand New Day chegou a ser contestado mesmo antes de nascer, mas parece que agora alcançou algum prestígio. Não é perfeito, mas se o fosse não teria tanta piada.
Deixando um pouco de lado esta reflexão e indo mais directo ao que passou na estória, deixo aqui a minha recomendação a este arco e possivelmente à sua sequela, Character Assassination, da autoria de Marc Guggenheim e John Romita Jr., que é onde algumas pontas soltas se unificam. A continuidade de Amazing Spider-Man não é assim tão impenetrável quanto outros títulos actuais, tanto que um pequeno texto na página da Wikipedia responde logo a alguma dúvidas. Foram introduzidas algumas personagens, as quais, essas sim, podem causar alguma confusão, mas como ainda não foram devidamente exploradas há uma grande margem de manobra para novos leitores. New Ways To Die funciona muito bem sozinho e já tem selo de obrigatoriedade para os fãs do Cabeça de Teia. O argumento é bastante sólido e volto a destacar a importância da exploração das personagens, sendo a mais evidente a de Norman Osborn que volta aqui aos seus tempos áureos. Vemo-lo como manipulador exímio, uma das suas especialidades, sentimos a sua desilusão em relação ao seu filho, Harry, por este ter desrespeitado o legado da família ao seus seguir o seu próprio rumo e ainda temos direito a um inesperado regresso do Duende Verde, num rasgo de loucura que soube ao perfume dos já idos anos 60. Destaque ainda para a dicotomia introduzida com a estreia de Anti-Venom, que me pareceu ter bastante potencial e veio deitar por terra as minhas dúvidas quanto à sua aposta. Este aparente herói tomou o corpo de Eddie Brock que voltou agora anos depois de ter alcançado a sua redenção. Finalmente curado da doença que durante tantos anos o atormentou, ele vê o Anti-Venom como a cura para uma cidade que está doente e como meio de se redimir de todo mal que causou sob a forma do clássico Venom. E esta premissa promete alguns desenvolvimentos interessantes no futuro. Imaginando tudo isto com arte do "pequeno" Romita, só podemos pensar em algo realmente inspirado.
NOTA: 5/5
Uma dessas falhas foi até bastante cómica e fez-me reflectir um pouco sobre os tempos que se vivem hoje em dia, chegando eu à conclusão que se calhar estamos num protótipo de uma certa era dourada à semelhança do passado, em que os comics exploravam conceitos irreais que toda a gente gostava e encarava com relativa facilidade. Aquela ingenuidade característica da ficção dos Super-Heróis onde o herói, por mais dificuldades que enfrentasse, sairia vitorioso gloriosamente. Era esse ingrediente que fazia muitos de nós sonhar com um mundo melhor. Pois bem, indo directo ao assunto, há uma certa cena em que os Thunderbolts de Norman Osborn visitam a residência de Peter Parker, ficando este com a ideia de que tinham descoberto de novo a sua identidade secreta. Nada mais errado, apenas procuravam informações acerca da sua conexão ao Homem Aranha (relativamente às inúmeras fotos do herói que são publicadas no Clarim Diário). Na sala estavam Venom e o Homem-Radioactivo, dois sujeitos com poderes que mais tarde iriam ter um uso mágico! Depois de não conseguirem obter informações conclusivas, Osborn ordena que os seus subordinados procurem o próprio Aranhiço nas ruas de Nova Iorque. É então que Venom e o Homem-Radiocativo soltam um diálogo interessante, do género: "Nós conseguimos sentir o sangue radioactivo do Aranha...". Ora, isto é deveras curioso pois anteriormente tinham estado na mesma sala que o dito cujo e nada tinham sentido...
New Ways To Die: The Amazing Spider-Man #568-573 |
Talvez o mundo da Banda Desenhada se devesse concentrar nos conceitos fantásticos que eram a imagem de marca nas suas origens e não cair no erro de se escreverem estórias sob a premissa de "E se o Homem-Aranha vivesse no nosso mundo, como seria?". Existem selos específicos que servem esse propósito e não é necessário os universos regulares entrarem nesses caminhos. Este Brand New Day quer, ou pelo menos tenta, ressuscitar algum daquele sentimento dourado e místico do passado em que víamos coisas absurdas acontecerem nos comics, mas com quais ríamos e sentíamos alguma afinidade, ainda que com os seus altos e baixos. Eu próprio admito que sinto uma maior proximidade por um Watchmen, que se preza essencialmente pela aproximação ao mundo dos Homens, do que propriamente por um Homem-Aranha ingénuo, mas as estórias de heróis deveriam ser mesmo isso: ingénuas e por vezes incoerentes. Para chata e rija já nos chega a nossa vida que tanta vezes nos deixa de rastos (e felizes também, como é óbvio). Por mais difícil que às vezes seja aceitar isso, a verdade é que deveríamos andar mais ao sabor da onda e não rejeitar tão prontamente iniciativas que a Marvel e a DC Comics nos propõem, ou até a Image. Brand New Day chegou a ser contestado mesmo antes de nascer, mas parece que agora alcançou algum prestígio. Não é perfeito, mas se o fosse não teria tanta piada.
Deixando um pouco de lado esta reflexão e indo mais directo ao que passou na estória, deixo aqui a minha recomendação a este arco e possivelmente à sua sequela, Character Assassination, da autoria de Marc Guggenheim e John Romita Jr., que é onde algumas pontas soltas se unificam. A continuidade de Amazing Spider-Man não é assim tão impenetrável quanto outros títulos actuais, tanto que um pequeno texto na página da Wikipedia responde logo a alguma dúvidas. Foram introduzidas algumas personagens, as quais, essas sim, podem causar alguma confusão, mas como ainda não foram devidamente exploradas há uma grande margem de manobra para novos leitores. New Ways To Die funciona muito bem sozinho e já tem selo de obrigatoriedade para os fãs do Cabeça de Teia. O argumento é bastante sólido e volto a destacar a importância da exploração das personagens, sendo a mais evidente a de Norman Osborn que volta aqui aos seus tempos áureos. Vemo-lo como manipulador exímio, uma das suas especialidades, sentimos a sua desilusão em relação ao seu filho, Harry, por este ter desrespeitado o legado da família ao seus seguir o seu próprio rumo e ainda temos direito a um inesperado regresso do Duende Verde, num rasgo de loucura que soube ao perfume dos já idos anos 60. Destaque ainda para a dicotomia introduzida com a estreia de Anti-Venom, que me pareceu ter bastante potencial e veio deitar por terra as minhas dúvidas quanto à sua aposta. Este aparente herói tomou o corpo de Eddie Brock que voltou agora anos depois de ter alcançado a sua redenção. Finalmente curado da doença que durante tantos anos o atormentou, ele vê o Anti-Venom como a cura para uma cidade que está doente e como meio de se redimir de todo mal que causou sob a forma do clássico Venom. E esta premissa promete alguns desenvolvimentos interessantes no futuro. Imaginando tudo isto com arte do "pequeno" Romita, só podemos pensar em algo realmente inspirado.
NOTA: 5/5
Este arco de história é realmente bom e interessante, mas considero que ele é apenas aquilo que um comic regular deveria ser. Bem escrito e divertido.
ResponderEliminarEsta fase do aranha pós Straczinsky, é como dizes, bastante irregular e assim este arco salta á vista, mas não o acho genial ou extraordinário.
A história que mostra o flash com as pernas amputadas é também uma boa história desta fase que mais tarde recordaremos com carinho. Mas no geral acho que a irregulariedade da qualiadade das histórias pendem mais para o lado negativo e este "hype" que se parece ter criado em volta do Dan slott francamente exagerado.
Não creio que este autor ainda tenha criado "aquela história". Considero-o um autor mediano que de vez em quando traz bons momentos.
Entendo-te Rui Silva e como tal respeito a tua opinião em relação ao Slott. Eu exagero um bocado por ser um sucker pelo Aranha e o Slott consegue escrever isto de uma maneira que me toca e faz lembrar os bons velhos tempos. Daí eu ter ficado bastante impressionado com este New Ways to Die.
ResponderEliminarNeste contexto, talvez a minha opinião seja um pouco excessiva tendo em conta o meu gosto, também ele excessivo, pela personagem :)
Após esta euforia, talvez volte com umas reviews mais assentes no chão ahah.
Esta "onda" em volta do Dan Slott surgiu penso eu, quando ele escrevia a Mulher Hulk. Já na altura achava que se lia bem, mas completamente imcomparável com a fase do Byrne.
ResponderEliminarAté ao momento, simplesmente não o acho nada de especial.
As histórias que ele escreveu para A iniciativa a mesma coisa - regulares.
Pelo menos não faz M#$&#. Já não é mau.