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O.M.I.T. - Joe Quesada e Paolo Rivera |
Já lá vão mais de dois anos desde que
Brand New Day foi iniciado, isto após uma conturbada resolução de problemas da vida do Aranha por parte de
Joe Queijada e
Joe Straczynski. Há quem diga que este último foi o responsável pelo grande declínio da personagens nos últimos anos, tudo porque decidiu explorar uma faceta mais adulta de
Peter Parker, dando-lhe inclusivamente um trabalho como professor na sua antiga escola (editado pela
Devir em Portugal os volumes
Raízes e
Estranhas Sombras). O que enfureceu os saudosistas nem foi essa decisão, mas sim o momento em que se revela que os poderes do
Homem Aranha têm origens totémicas (se bem que esta ideia é apresentada com uma certa ambiguidade). A aranha que picou
Peter faria então parte de uma espécie cujos poderes eram místicos, destronando um pouco a ideia de que a radiação era a causa da mutação infligida ao amigo da vizinhança. Os profetas da desgraça ergueram-se então com grande vingança e raiva furiosa atacando
Strac no instante em que este decidiu fazer um
retcon com
Gwen Stacy e
Norman Osborn, insinuando que teria havido uma relação entre os dois da qual haviam surgido dois filhos. Neste assunto nada contra, hoje em dia olho para essa saga e constato que é um dos maiores
epic fails na história do
Aranha. Simplesmente foi mau demais, os editores concerteza estavam a dormir e não perceberam as implicações caóticas que isto teria. Qualquer personagem tem uma base de valores que não pode nunca ser subjugada e aqui foi o que se fez. Foi uma completa ofensa à memória da
Gwen Stacy (coitada, nem existe realmente e estão sempre a tentar fazer dela uma má personagem).
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O mágico capanga do Elektro é sovado por tocar onde não deve |
Tenho pena, pois o
Straczynski é um daqueles autores pelos quais eu tenho um grande respeito já que o seu trabalho é quase sempre de grande qualidade (
Thor é um bom exemplo), mas aqui esteve claramente mal. Vale lembrar que a primeira vez que li um
comic foi exactamente um dos seus desta fase com
John Romita Jr., o que contribui para esta admiração que tenho por ele. Ainda hoje considero que o Aranha atravessou um dos melhores períodos da sua história com estes dois, isto claro até
Sins Past. Houve muita coisa que foi recuperada com estes autores: desde já, um regressar aos lápis antigos de
John Romita Sr. através do seu filho e depois um argumento completamente apaixonante que reflectia exactamente a personalidade de
Peter Parker. Voltávamos a ver boas piadas, boa tragédia e personagens interessantes como sempre foi normal. Infelizmente, as pessoas só ficam recordadas pelo que fazem de mal, o que não acontece só nos
comics. A vida é isto e nada mais.
Mas indo directo ao assunto:
Quesada quis explicar aquilo que tanto tinha espantado a opinião pública em
One More Day e precisou de dois anos e meio para concretizar a sua magnífica ideia. Basicamente, fez um
retcon dentro de um
retcon! Genial! E a lição mais importante a tirar disto tudo é que a correcção ficou francamente melhor que a borrada inicial, mas a existência das duas faz-me pensar que este foi um caminho terrível de percorrer, quer pelos leitores quer por
Peter Parker e
Mary Jane. É o que dá querer fazer estórias audazes e chocar o mundo e vir depois apagar fogos que nem bombeiro da freguesia de Mafamude. Era preciso desmascarar o Aranha? Meter a velha a morrer? Chamar o Mephisto? Pelos vistos não, porque tudo isto foi apagado da continuidade. Ninguém se lembra. As cassetes da CNN que gravavam o Peter a revelar-se ao mundo foram apagadas da existência. Cortesia do
Doutor Estranho. É claro que estando num mundo de fantasia tudo se torna possível. Pode parecer estranho e irrealista, mas o que é facto é que quase tudo é aceitável sem uma explicação coesa.
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As belas capas de Rivera |
E agora vem incoerência: eu gostei de
One Moment In Time. Pronto, está dito. Soube bem ler isto, foi como tirar um peso de cima e constatar que afinal de contas nem foi assim tão mau. Compreendo aqueles que se sentem insultados e que crêem que este é o maior ultraje não só da história do Aranha, como também de todo o sempre nos comics, mas neste caso pedia-se mudança. Eu percebo claramente esse ponto de vista, eu próprio me senti assim quando tudo isto começou e senti-me estúpido. Trazer o Diabo e o
Doutor Estranho, duas figuras místicas para um
background que se quer realista era de facto atirar pedras ao ar. Os meios para atingir um fim foram maus, a concretização teve diversas falhas, mas no fim,
One Moment In Time trouxe de volta aquilo que eu gostava no Aranha: conflitos amorosos, drama, piadas descomplexadas, enfim todos aqueles pormenores que fizeram desta personagem aquela que muitos amámos ao longo destes anos (aquilo que se vê hoje em
Brand New Day). O casamento não permitia isto. Daí advinha um amadurecimento chato que tanto podia ter de positivo como de negativo.
Straczynski explorou bem essa faceta, mas não creio que fosse algo sustentável a longo prazo. Contudo, creio que o divórcio seria uma aposta bastante mais aliciante. Talvez fosse uma lição de vida para aqueles que leêm o Aranha mensalmente. Para que um casamento tenha sucesso não chega apenas o amor, há todo um conjunto de mesquinhices, manias e taras que têm de ser partilhadas pelo casal sem haver ondas. Neste caso a identidade, secreta do Aranha era incompatível para com
Mary Jane, coisa que ao longo dos anos havia sido uma luta constante. É claro que o divórcio implicaria uma nova metamorfose da personagem, consoante as abordagens seguintes. Poderíamos voltar às origens facilmente explorando essas consequências levemente. Mas não é isso que Quesada quer. Quesada quer plantar na mente dos leitores a ideia de que ainda é possível haver amor entre Peter e MJ, que continue a existir aquele amor platónico que muitas vezes caracterizou a vida do rapaz. E que tanto se assemelha à nossa. É esta identificação com o público que se pretende resgatar. A viagem foi má? Sim, mas terá valido a pena. Daqui a uns poder-se-á desmistificar isto, ou até mesmo soltar um: Quesada, tu erraste! A ver vamos.
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Arte interior de Amazing Spider-Man #538 |
Quanto à estória em si nestes quatro números, convém fazer um breve resumo especialmente para aqueles que não querem gastar o seu tempo a ver pontas soltas juntarem-se. Basicamente a acção começa onde tinha parado numa das páginas de
One More Day, aquando do pacto final entre Mephisto e MJ e Peter. Revela-se finalmente aquilo que a ruiva sussurrou ao ouvido do Diabo que foi nada mais que um: só eu posso convencer o Peter a abdicar do casamento, vais precisar da minha ajuda. A montanha pariu um rato, meus senhores. Em
Amazing Spider-Man #638 vemos
Quesada a usar antigas pranchas do casamento original do Spidey, sobrepondo-as tanto à sua arte como à de
Paolo Rivera (um grande artista dos nossos tempos). É aqui que se dá um ponto de viragem, tendo
Mephisto regressado ao passado sob a forma de um pombo (UM POMBO!) e liberta um dos capangas do vilão
Elektro que estava preso num carro da polícia (como ninguém o viu escapar, não sei). Este momento irá influenciar a vida de Peter e impedi-lo de casar. Mas esta mudança apenas tem essa consequência. Tudo o resto acontece, desde o desmascarar até à condição de morte próxima da Tia May. Mas como é que o mundo esquecerá a identidade de Peter? É aqui que entra o
Doutor Estranho e os
Illuminati. Acho que já estão a ver a cena, não é? Contudo, estes fizeram um acordo de cavalheiros em que só o Peter se iria lembrar de tudo. E assim foi, mas este último decidiu trazer consigo Mary Jane no último instante, ficando esta também com lembranças do sucedido. Ah, os leitores também não se esqueceram. E é isto meus amigos. Afinal não tinha havido magia, apenas um regresso ao passado de um pombo que alterou a vida de Peter Parker.
Com isto tudo, perguntam vocês: mas como é tu gostaste disto seu safado incoerente? Pois bem, a estória tocou-me. Já há muito que não lia nada assim do Aranha. Notou-se que Quesada escreveu isto de forma apaixonada, como um verdadeiro fã que cresceu com a personagem. Cometeu os seus erros, mas uma leitura atenta aos diálogos revela que a verdadeira essência do Aranhiço estava ali representada. Pode parecer triste, mas foi isto que senti. Venham de lá as boas estórias,
Dan Slott!
NOTA: 7/10
O SEGREDO DOS ESCRITORES disse...
ResponderEliminarolá!
tudo bom???
muito prazer,me chamo Augusto César...
gostei muito do seu blogger. show de bola!
estou lhe seguindo,me siga também???
http://osegredodosescritores.blogspot.com/
Eh,eh,eh..Mister JP, se possível corte ali o meu comentário, estava um bocadito 'ganzado' quando o escrevi...LoL
ResponderEliminarEu escrevo ourtro só a enaltecer o seu texto que bem merece.
Oh Diogo eu gostei do teu comentário :D (especialmente a parte das lésbicas boazudas!).
ResponderEliminarO estado ganzado é um daqueles com que me identifico, por isso não te sintas sozinho (não que eu ande aí na má vida, é mais uma cena psicológica).
Mas apaga na mesma eu reformulo...às vezes os dedos saiem-se com coisas que o cérebro não pensa..
ResponderEliminarBom post Celtic, mas eu já estou longe do Aranha... parei de comprar com aqula cena marada que toda a gente conhece, e já não consigo re-iniciar!
ResponderEliminar:(
Abraço
Não me apanham outra vez nessa,o Quesada ja levou esta brincadeira longe demais.
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