15 setembro 2010

Amazing Spider-Man #638-641 - One Moment In Time

O.M.I.T. - Joe Quesada e Paolo Rivera
Já lá vão mais de dois anos desde que Brand New Day foi iniciado, isto após uma conturbada resolução de problemas da vida do Aranha por parte de Joe Queijada e Joe Straczynski. Há quem diga que este último foi o responsável pelo grande declínio da personagens nos últimos anos, tudo porque decidiu explorar uma faceta mais adulta de Peter Parker, dando-lhe inclusivamente um trabalho como professor na sua antiga escola (editado pela Devir em Portugal os volumes Raízes e Estranhas Sombras). O que enfureceu os saudosistas nem foi essa decisão, mas sim o momento em que se revela que os poderes do Homem Aranha têm origens totémicas (se bem que esta ideia é apresentada com uma certa ambiguidade). A aranha que picou Peter faria então parte de uma espécie cujos poderes eram místicos, destronando um pouco a ideia de que a radiação era a causa da mutação infligida ao amigo da vizinhança. Os profetas da desgraça ergueram-se então com grande vingança e raiva furiosa atacando Strac no instante em que este decidiu fazer um retcon com Gwen Stacy e Norman Osborn, insinuando que teria havido uma relação entre os dois da qual haviam surgido dois filhos. Neste assunto nada contra, hoje em dia olho para essa saga e constato que é um dos maiores epic fails na história do Aranha. Simplesmente foi mau demais, os editores concerteza estavam a dormir e não perceberam as implicações caóticas que isto teria. Qualquer personagem tem uma base de valores que não pode nunca ser subjugada e aqui foi o que se fez. Foi uma completa ofensa à memória da Gwen Stacy (coitada, nem existe realmente e estão sempre a tentar fazer dela uma má personagem).

O mágico capanga do Elektro é sovado por tocar onde não deve
Tenho pena, pois o Straczynski é um daqueles autores pelos quais eu tenho um grande respeito já que o seu trabalho é quase sempre de grande qualidade (Thor é um bom exemplo), mas aqui esteve claramente mal. Vale lembrar que a primeira vez que li um comic foi exactamente um dos seus desta fase com John Romita Jr., o que contribui para esta admiração que tenho por ele. Ainda hoje considero que o Aranha atravessou um dos melhores períodos da sua história com estes dois, isto claro até Sins Past. Houve muita coisa que foi recuperada com estes autores: desde já, um regressar aos lápis antigos de John Romita Sr. através do seu filho e depois um argumento completamente apaixonante que reflectia exactamente a personalidade de Peter Parker. Voltávamos a ver boas piadas, boa tragédia e personagens interessantes como sempre foi normal. Infelizmente, as pessoas só ficam recordadas pelo que fazem de mal, o que não acontece só nos comics. A vida é isto e nada mais.

Mas indo directo ao assunto: Quesada quis explicar aquilo que tanto tinha espantado a opinião pública em One More Day e precisou de dois anos e meio para concretizar a sua magnífica ideia. Basicamente, fez um retcon dentro de um retcon! Genial! E a lição mais importante a tirar disto tudo é que a correcção ficou francamente melhor que a borrada inicial, mas a existência das duas faz-me pensar que este foi um caminho terrível de percorrer, quer pelos leitores quer por Peter Parker e Mary Jane. É o que dá querer fazer estórias audazes e chocar o mundo e vir depois apagar fogos que nem bombeiro da freguesia de Mafamude. Era preciso desmascarar o Aranha? Meter a velha a morrer? Chamar o Mephisto? Pelos vistos não, porque tudo isto foi apagado da continuidade. Ninguém se lembra. As cassetes da CNN que gravavam o Peter a revelar-se ao mundo foram apagadas da existência. Cortesia do Doutor Estranho. É claro que estando num mundo de fantasia tudo se torna possível. Pode parecer estranho e irrealista, mas o que é facto é que quase tudo é aceitável sem uma explicação coesa.

As belas capas de Rivera
E agora vem incoerência: eu gostei de One Moment In Time. Pronto, está dito. Soube bem ler isto, foi como tirar um peso de cima e constatar que afinal de contas nem foi assim tão mau. Compreendo aqueles que se sentem insultados e que crêem que este é o maior ultraje não só da história do Aranha, como também de todo o sempre nos comics, mas neste caso pedia-se mudança. Eu percebo claramente esse ponto de vista, eu próprio me senti assim quando tudo isto começou e senti-me estúpido. Trazer o Diabo e o Doutor Estranho, duas figuras místicas para um background que se quer realista era de facto atirar pedras ao ar. Os meios para atingir um fim foram maus, a concretização teve diversas falhas, mas no fim, One Moment In Time trouxe de volta aquilo que eu gostava no Aranha: conflitos amorosos, drama, piadas descomplexadas, enfim todos aqueles pormenores que fizeram desta personagem aquela que muitos amámos ao longo destes anos (aquilo que se vê hoje em Brand New Day). O casamento não permitia isto. Daí advinha um amadurecimento chato que tanto podia ter de positivo como de negativo. Straczynski explorou bem essa faceta, mas não creio que fosse algo sustentável a longo prazo. Contudo, creio que o divórcio seria uma aposta bastante mais aliciante. Talvez fosse uma lição de vida para aqueles que leêm o Aranha mensalmente. Para que um casamento tenha sucesso não chega apenas o amor, há todo um conjunto de mesquinhices, manias e taras que têm de ser partilhadas pelo casal sem haver ondas. Neste caso a identidade, secreta do Aranha era incompatível para com Mary Jane, coisa que ao longo dos anos havia sido uma luta constante. É claro que o divórcio implicaria uma nova metamorfose da personagem, consoante as abordagens seguintes. Poderíamos voltar às origens facilmente explorando essas consequências levemente. Mas não é isso que Quesada quer. Quesada quer plantar na mente dos leitores a ideia de que ainda é possível haver amor entre Peter e MJ, que continue a existir aquele amor platónico que muitas vezes caracterizou a vida do rapaz. E que tanto se assemelha à nossa. É esta identificação com o público que se pretende resgatar. A viagem foi má? Sim, mas terá valido a pena. Daqui a uns poder-se-á desmistificar isto, ou até mesmo soltar um: Quesada, tu erraste! A ver vamos.

Arte interior de Amazing Spider-Man #538
Quanto à estória em si nestes quatro números, convém fazer um breve resumo especialmente para aqueles que não querem gastar o seu tempo a ver pontas soltas juntarem-se. Basicamente a acção começa onde tinha parado numa das páginas de One More Day, aquando do pacto final entre Mephisto e MJ e Peter. Revela-se finalmente aquilo que a ruiva sussurrou ao ouvido do Diabo que foi nada mais que um: só eu posso convencer o Peter a abdicar do casamento, vais precisar da minha ajuda. A montanha pariu um rato, meus senhores. Em Amazing Spider-Man #638 vemos Quesada a usar antigas pranchas do casamento original do Spidey, sobrepondo-as tanto à sua arte como à de Paolo Rivera (um grande artista dos nossos tempos). É aqui que se dá um ponto de viragem, tendo Mephisto regressado ao passado sob a forma de um pombo (UM POMBO!) e liberta um dos capangas do vilão Elektro que estava preso num carro da polícia (como ninguém o viu escapar, não sei). Este momento irá influenciar a vida de Peter e impedi-lo de casar. Mas esta mudança apenas tem essa consequência. Tudo o resto acontece, desde o desmascarar até à condição de morte próxima da Tia May. Mas como é que o mundo esquecerá a identidade de Peter? É aqui que entra o Doutor Estranho e os Illuminati. Acho que já estão a ver a cena, não é? Contudo, estes fizeram um acordo de cavalheiros em que só o Peter se iria lembrar de tudo. E assim foi, mas este último decidiu trazer consigo Mary Jane no último instante, ficando esta também com lembranças do sucedido. Ah, os leitores também não se esqueceram. E é isto meus amigos. Afinal não tinha havido magia, apenas um regresso ao passado de um pombo que alterou a vida de Peter Parker.

Com isto tudo, perguntam vocês: mas como é tu gostaste disto seu safado incoerente? Pois bem, a estória tocou-me. Já há muito que não lia nada assim do Aranha. Notou-se que Quesada escreveu isto de forma apaixonada, como um verdadeiro fã que cresceu com a personagem. Cometeu os seus erros, mas uma leitura atenta aos diálogos revela que a verdadeira essência do Aranhiço estava ali representada. Pode parecer triste, mas foi isto que senti. Venham de lá as boas estórias, Dan Slott!

NOTA: 7/10

6 comentários:

  1. O SEGREDO DOS ESCRITORES disse...

    olá!
    tudo bom???
    muito prazer,me chamo Augusto César...
    gostei muito do seu blogger. show de bola!
    estou lhe seguindo,me siga também???
    http://osegredodosescritores.blogspot.com/

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  2. Eh,eh,eh..Mister JP, se possível corte ali o meu comentário, estava um bocadito 'ganzado' quando o escrevi...LoL

    Eu escrevo ourtro só a enaltecer o seu texto que bem merece.

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  3. Oh Diogo eu gostei do teu comentário :D (especialmente a parte das lésbicas boazudas!).

    O estado ganzado é um daqueles com que me identifico, por isso não te sintas sozinho (não que eu ande aí na má vida, é mais uma cena psicológica).

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  4. Mas apaga na mesma eu reformulo...às vezes os dedos saiem-se com coisas que o cérebro não pensa..

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  5. Bom post Celtic, mas eu já estou longe do Aranha... parei de comprar com aqula cena marada que toda a gente conhece, e já não consigo re-iniciar!
    :(

    Abraço

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  6. Não me apanham outra vez nessa,o Quesada ja levou esta brincadeira longe demais.

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